Em fevereiro do ano ado Um brasileiro de 19 anos, que se suicidou, relatou o ocorrido ao vivo no TikTok. Na véspera, o menino anunciou aos fãs que estava preparando um material especial. A maneira como ele tirou a própria vida foi assistida por 280 pessoas. 497 comentários foram postados sob o vídeo, e 15 usuários do site notificaram as autoridades da TikTok sobre isso. No entanto, o vídeo só foi removido uma hora e meia após o término da cobertura.
Um dos ex-funcionários da ByteDance, dona da TikTok, agora revelou ao The Intercept como a gestão da plataforma agia na época.
De acordo com este homem, o adolescente suicidou-se no dia 21 de fevereiro de 2019 em 15:23. A empresa recebeu informações sobre o assunto em 17. Enfim ela não informou imediatamente a polícia e a família do menino sobre a situação, mas iniciou atividades de relações públicas. Toda a estratégia foi garantir que a informação de que o suicídio foi relatado ao vivo não extrapolasse o site.
Os chefes da TikToka no Brasil entre 17h e 19h56 deveriam tomar todas as medidas destinadas a minimizar o impacto potencialmente negativo da história na reputação da empresa. Só depois 3 horas após o incidente, eles informaram a polícia. Até então, eles se preparavam, entre outros declaração à mídia de que a empresa não permite conteúdo que promova ferimentos pessoais ou suicídio. No entanto, a declaração nunca foi enviada ou publicada.
Os funcionários da TikTok, por sua vez, receberam uma ordem interna para evitar que o relato do adolescente e toda a história se tornassem “virais”. Os funcionários no Brasil deveriam monitorar e verificar se o vídeo não ia parar em outras plataformas de mídia social.
O informante do Intercept também revelou que prOs representantes da ByteDance recomendaram não informar nenhum serviço ou família do menino falecido sobre o incidente.
O Intercept não conseguiu obter uma explicação da filial brasileira da TikToka. Apenas foi relatado que o conteúdo relacionado ao suicídio havia sido removido do site há um ano e as autoridades competentes haviam sido notificadas sobre o incidente.
Precisa de uma política de responsabilidade e resposta ao comportamento anormal
Para Eliza Misiecka, diretora da agência Genesis PR, essa situação é uma espécie de paranóia. – É um escândalo que tais coisas aconteçam. Todas as redes sociais devem implementar uma política muito mais aprofundada de responsabilidade e resposta a comportamentos inadequados. Isso se aplica ao ódio amplamente compreendido, notícias falsas até casos extremos, conforme descrito. O dever de tais sites deve ser ações de educação contínua sobre como operar na rede, o que evitar e o que está errado. Infelizmente, a mídia social estimula e se alimenta de emoções negativas. É hora de a sociedade acordar e começar a usar as mídias sociais com sabedoria, não emocionalmente, acredita Eliza Misiecka.
Na opinião de Marek Gieorgica, sócio-gerente do Clear Communication Group todo o incidente é um exemplo de negligência e evidência de falta de profissionalismo.
– Para um site como o Tik Tok, a publicação de um vídeo com suicídio ao vivo, bem como provavelmente muitas outras situações fáceis de mencionar, é a fonte mais verdadeira da crise de imagem. Uma empresa desse tipo deve ter um catálogo pré-definido de potenciais crises, ter procedimentos operacionais adequados e materiais prontos para a comunicação – enfatiza nosso interlocutor.
O interesse próprio é mais importante do que a segurança do usuário
Ele afirma que se trata de uma base absoluta e que cada organização deve estar preparada para a ocorrência de situações “típicas” – ou seja, previsíveis de situações de crise.
– Atrasar a notificação da polícia é um segundo erro igualmente grave. Tal comportamento expõe a empresa a uma crise ainda mais grave. P.mostra que ela não está preparada e se preocupa mais com seus próprios interesses quando algo ruim acontece. Porque você pode imaginar uma situação em que alguém vai transmitir ao vivo tortura, estupro, abuso de animais no site – a empresa também vai esperar nessas situações, porque você precisa primeiro preparar um depoimento? Esta é uma atividade absolutamente inaceitável que uma mídia com bilhões de usuários em todo o mundo absolutamente não pode pagar. Nessas situações, é necessário reagir imediatamente e, acima de tudo, estar preparado com antecedência, enfatiza Marek Gieorgica.
Em entrevista ao Wirtualnemedia.pl, ele ite que não consegue nem acreditar nesse tipo de abordagem e a considera totalmente antiprofissional. – Toda empresa, mesmo a pequena, deve ter procedimentos para lidar com situações de crise, sua ausência é uma ameaça ao funcionamento do negócio e miopia de longo alcance – comenta Gieorgica.
Não era uma estratégia de relações públicas, mas sim uma simples manipulação
De acordo com o prof. Dariusz Tworzydło da Universidade de Varsóvia, empatia é necessária em situações de crise, e isso faltou. – A responsabilidade também é importante, e aqui podemos ver as tentativas de acobertamento do caso, a falta de notificação urgente dos serviços e as tentativas de ocultar informações que eram relevantes para o caso. Certamente neste caso deve-se falar sobre manipulação, não sobre atividades ocultas na definição de relações públicas, cuja chave é comunicar a verdade – avalia nosso interlocutor.
– O princípio fundamental de operar em uma crise é que primeiro lidamos com a saúde e a segurança das pessoas. Ao mesmo tempo, essa segurança deve ser entendida da maneira mais ampla possível – por exemplo, como o direito da família à privacidade em um momento de crise – acrescenta Paweł Soproniuk, sócio da agência de RP da Neuron. Acredita que em situações como a de relato de suicídio no site, a principal tarefa da plataforma é auxiliar imediatamente os serviços relevantes na identificação da localização física do evento e cooperar estreitamente com os serviços para garantir que nenhum material que ajude na o futuro no curso da investigação são destruídos.
– É importante ressaltar que os serviços têm procedimentos adequados para informar a família sobre tais eventos e podem fornecer cuidados adequados para seus entes queridos – Não consigo imaginar como o próprio TikTok determinaria os detalhes da família e os informaria sobre a morte de um ente querido. Isso não é tarefa da empresa – enfatiza Paweł Soproniuk. Ele acrescenta que Nessa situação, a empresa deve ter mecanismos prontos para bloquear tal conteúdo o máximo possível. Qualquer ação adicional para bloquear a disseminação desse material, diz ela, também é correta, independentemente da motivação da plataforma – pois protege os parentes mais próximos da vítima. – Não faço uma avaliação das próprias ações de crise – sei muito pouco sobre o seu contexto. Via de regra, informar os serviços em primeiro lugar é uma questão fundamental, principalmente quando se trata da questão da morte humana, pois aumenta as chances de que a família seja corretamente informada e atendida mais cedo. Além disso (pelo menos na Polônia), o Ministério Público sempre examina se um determinado incidente não é um homicídio – e, por exemplo, na lei polonesa, há uma obrigação de notificar os serviços relevantes. No entanto, não conheço o direito penal do Brasil, pode ser diferente aí – resume Paweł Soproniuk.
Problemas morais e de imagem
Grzegorz Miller, dono da agência MillerMedia, ressalta que o assunto deve ser considerado tanto no plano moral quanto na imagem. – Moralmente, é claro, o departamento de RP e a gestão da empresa caíram completamente, primeiro cuidando de salvar a imagem e, em seguida, relatando um suicídio ou condição com risco de vida. Do ponto de vista da RP – em termos de rapidez de reação dos responsáveis pela imagem, não teria objeções e o procedimento em si (trabalhar o depoimento, planejar etapas para minimizar o risco à imagem) obedece com as regras gerais de conduta em situações de crise. Por outro lado, o fato de não informar a polícia e os parentes do usuário e focar seus esforços em salvar a imagem (ou seja, negócios) e não em comportamentos dignos da pessoa humana é muito preocupante. noocultar fatos e evitar responsabilidades não estão incluídos no cânone das atividades de relações públicasporque – se vem à tona, e geralmente sai – arruína a reputação da empresa. Isso não deve impactar no resultado financeiro da plataforma Tik Tok, mas certamente terá impacto na percepção de seu dono – prevê nosso interlocutor.
TikTok na ofensiva
O aplicativo social TikTok está se desenvolvendo cada vez mais dinamicamente. De acordo com algumas estimativas da plataforma atualmente usa mais 1,5 bilhões de usuários ativos no mundo.
O TikTok também esteve na vanguarda dos aplicativos baixados com mais frequência em 2019, batendo, entre outros pertencendo ao facebook Instagram. Somente no último trimestre de 2019, ele foi baixado mais de 220 milhões de vezes.
Por sua vez, ByteDance, o dono do TikTok ainda está em busca de novos métodos de obtenção de renda. Em dezembro do ano ado a empresa lançou seu próprio serviço de streaming de música em mercados selecionados, a ByteDance também pretende entrar no mercado de jogos móveis com produções originais.