Durante o debate “Poloneses não gansos, eles conhecem a linguagem do ódio”, organizado pela Universidade Aberta da Universidade de Varsóvia e pelo Autogoverno desta universidade, foi discutido o tema do discurso de ódio no espaço público.
Convidados: Karolina Lewicka da Radio TOK FM; Magda Mołek, apresentadora de “Dzień Dobry TVN” e jornalista da TVN Style; prof. Radoslaw Pawelec; pai Ludwik Wiśniewski e prof. Mirosław Wyrzykowski discutiu o poder das palavras usadas no contexto errado e com más intenções.
A jornalista Magda Mołek afirmou que, segundo ela, cada um dos reunidos na sala conhecia o poder das palavras.
– Principalmente no espaço público onde estou por perto, vemos e conhecemos o poder das palavras. Eu gostaria de apresentar exemplos de que boas palavras constroem boas. No mundo jornalístico, procuro pesar palavras, em cada pessoa que encontro profissionalmente quero encontrar o bem. Eu sei como é difícil lidar com o ódio que sentimos. Acredito que é importante dizer apenas boas palavras em público. Se eu envio bom, então bom volta – ela notou.
Por sua vez, o professor Pawelec estimou que a comunicação foi brutalizada. – Um lado está constantemente acusando o outro e a mídia é alimentada nele. Claro, nem todos, porque muitos jornalistas estão empenhados em um tipo diferente de trabalho. No entanto, tal fenômeno está se aprofundando em nossa comunicação. Se alguém tem uma vida privada e espiritual rica, ele aceita melhor o ódio. Na semântica do ódio, está a vontade de fazer algo errado, observou a professora.
Exame de consciência para cada um de nós
Segundo Karolina Lewicka, a mídia se alimenta do conflito porque dá exposição à mídia, mas o conflito também faz parte da política.
– As partes estão discutindo, cabe a nós como vamos lidar com esse conflito, como vamos usá-lo. (…) Quando penso nas palavras que ouvimos agora – a cada ano fico mais assustado. Há muito tempo, uma linguagem que considerávamos parlamentar não o é. Há consentimento para a grosseria, o desprezo, para palavras tão fortes que cerca de uma dúzia de anos atrás não teríamos sido capazes de á-las. Política é uma coisa, mas a mídia social, a internet fez um trabalho muito ruim, porque é muito fácil machucar quando estamos escondidos atrás da tela – avaliou o jornalista.
Ela também se perguntou o que estava levando as pessoas a comentar artigos de fofoca e ofender as pessoas.
– O que leva alguém a escrever tais palavras sobre pessoas das quais nada sabe? Por que isso está acontecendo, por que é assim? Que temos tempo e energia para isso? Seria uma perda de tempo para mim – declarou ela. – É responsabilidade de todos. Você tem que começar a trabalhar o idioma e um belo polonês consigo mesmo. Faça um exame de consciência se você segue alguma tendência existente no espaço público. Incentivo o trabalho individual no básico, procuro fazer todos os dias: não usei palavras que me envergonhassem – disse ela.
Considerando que o prof. Wyrzykowski avaliou que é óbvio que você pode odiar alguém ou algo.
– A questão é como direcionamos nossas emoções, com que intenção, para quem. Contra quem é direcionado o discurso de ódio. Dirigimos nosso ódio às pessoas mais fracas, às minorias. Aqueles que usam o discurso de ódio não têm essa consciência. É uma linguagem que deve expressar não apenas aversão, porque é natural, mas, acima de tudo, desprezo. Uma linguagem que destrói as esferas emocional e social, o contexto e o grupo. Só para acertar o destinatário. Origem étnica, religião, nacionalidade, cor da pele, estatuto pessoal, pessoas pertencentes a uma minoria – até sexual, situações em que objetivos e intenções são negativos – referiu.
Desejos de morte para um jornalista e seu filho
Quando questionada sobre como reagir ao fenômeno do discurso de ódio, Magda Mołek deu a remoção de comentários negativos no Instagram como um exemplo de controle de rede, o que ela mesma faz como a de sua conta.
– Quando anunciei que estava esperando um filho, havia dezenas de informações de contas falsas. A morte foi desejada para mim e para meu filho. Eu relatei e funciona. Acredito que vale a pena mostrar que não concordaremos com esse tipo de comportamento e discurso de ódio neste grupo. Acredito que com pequenos os você pode tentar conter sua língua, embora eu saiba que todos são tentados – eu também. Atuamos de acordo com regras estabelecidas, nos respeitamos, então vamos respeitar essas regras – disse ela.
O Padre Ludwik Wiśniewski afirmou que distingue o ódio do desprezo, porque o primeiro é o desejo de destruir uma pessoa – física ou moralmente, para eliminá-la. O desprezo, por outro lado, é uma tentativa de “enfraquecer o homem”.
– Em nossos partidos políticos – alguns querem destruir, outros ridicularizar. (…) Nos anos 1970 entendi que o sistema comunista era irreformável e que precisava ser esmagado. Esse sistema era baseado em uma mentira, então bastava não mentir e o sistema desmoronaria. A verdade é uma ferramenta para combater o mal, o ódio e a violência. A verdade falada com preocupação para o homem a quem é falada – enfatizou.
Dois lados da disputa política
Karolina Lewicka notou que, na tradição política polonesa, as bases para o discurso de ódio já estavam estabelecidas na Segunda República Polonesa. Atualmente, temos dois lados em uma disputa política que se acusam mutuamente de quem iniciou a máquina de discurso de ódio.
– A sociedade também está se polarizando, está se aprofundando. Nos últimos anos, tenho visto um consentimento cada vez maior para falar de forma odiosa – avaliou ela.
O padre Ludwik Wiśniewski acrescentou que um fenômeno pior do que o ódio é a percepção de que “são os outros e estamos bem”.
A jornalista Magda Mołek acrescentou que os adultos são um exemplo para as crianças, porque muitas vezes não sabem por que escrevem comentários odiosos online. Quando questionados sobre isso, geralmente não conseguem responder.
Prof. Radosław Pawelec, quando questionado se existe linguagem sem ódio, disse que não seria bom para a linguagem “se parássemos de nos criticar”.
– Você tem que diferir bela e fortemente, mas você tem que fazer isso de forma justa, você tem que aprender. A intenção de comunicar é importante. Para que melhor fosse o nosso interlocutor, não o destruísse. Criticar os fenômenos, não a sua pessoa, um traço permanente. Terceiro, dizer que esta é a nossa opinião, não generalizar. Em uma escala social, seria bom para a escola ensinar comunicação e alcançar o entendimento. O discurso do ódio tem muitas faces. Infelizmente, as pessoas hoje têm impunidade, acrescentou.
De acordo com Magda Mołek, no entanto, vale a pena lutar pelos seus direitos no tribunal. Ela deu o exemplo quando processou um dos tabloides e ganhou um processo alguns anos depois.
Karolina Lewicka destacou que, segundo ela, o discurso de ódio tem sua causa na falta de relacionamento face a face com outra pessoa e na impunidade.
– No meu trabalho profissional vivi várias vezes o processo de desumanização, foi um processo faseado. Primeiro, estava escrito que o programa funcionava de maneira péssima, que eu não era adequado para minha profissão. Então me escreveram sobre ser um idiota, então minha feiúra foi descrita. Enfim: o que deve ser feito comigo para me punir por tudo isso? Nunca me senti fisicamente ameaçado, mas o processo de insulto é como uma bola de neve. Este é um fenômeno muito perigoso – explicou o jornalista.
A liberdade de expressão não traduz o discurso de ódio
Prof. Wyrzykowski apontou para os aspectos legais do discurso de ódio: – A discussão sobre o discurso de ódio é muito difícil. Temos liberdade de expressão, mas não como um valor absoluto. Supõe-se que o argumento sobre a falta de liberdade de expressão sempre elimina a oposição política, não importa em que país vivamos. Existe apenas uma liberdade absoluta – da tortura, todas as outras são contextuais. Os limites da liberdade de expressão são os direitos e liberdades de outras pessoas – enfatizou a professora. – A dignidade da outra pessoa é o elemento básico. O discurso do ódio tem um objetivo – dignidade. A linguagem da discussão não é um problema. A essência do problema é motivar comportamentos que resultem em determinada ação. O direito penal é o último instrumento que devemos usar. Em primeiro lugar, todas as outras medidas, o código de boa conduta. Não vamos nos iludir, o direito penal não vai fazer muito – acrescentou.
Segundo o padre Ludwik Wiśniewski, é preciso estar otimista, porque talvez tenha chegado o período do “purgatório”.
– Não me lembro de nada parecido que tenha acontecido na minha vida. Temos uma discussão importante sobre discurso de ódio e desprezo. Talvez estejamos começando a experimentar o purgatório na Polônia. É importante apontar o dedo, principalmente apontar para os políticos, que algo não pode ser feito. Estamos ando por um período muito interessante, estamos tentando nos limpar do ódio e do desprezo – enfatizou o dominicano. – Permitimos que a linguagem do ódio e do desprezo se juntasse à linguagem religiosa. É muito importante o que faremos na Igreja agora e se chegou a hora de colocar as coisas em ordem, de resolvê-las. Será algo extremamente importante para o país, avaliou.